O escritor paraibano Ariano Suassuna morreu às 17h28m desta
quarta-feira (23/07), aos 87 anos, vítima de uma parada cardíaca provocada pela
hipertensão intracraniana. Ele estava internado no Real Hospital Português, em
Recife, Pernambuco, desde segunda-feira, depois de sofrer um acidente vascular
cerebral hemorrágico. O autor passou por uma cirurgia de emergência, acabou
entrando em coma e não resistiu. Integrante da Academia Brasileira de Letras,
Suassuna teve seis filhos e 15 netos. Defensor da cultura popular brasileira,
era um dos maiores dramaturgos do país, além de autor de romances e poemas.
O velório será realizado a partir das 23h desta quarta-feira
no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo do estado de Pernambuco.
Ariano Suassuna será enterrado às 16h de quinta-feira no Cemitério Morada da
Paz, no município de Paulista, região metropolitana de Recife.
No dia 21 de agosto do ano passado, ele foi atendido no
mesmo hospital por causa de um infarto, “com comprometimento cardíaco de
pequenas proporções”. Uma semana depois, passou mal e voltou a ser internado,
sendo submetido a uma arteriografia para corrigir um aneurisma que vinha lhe
provocando fortes dores de cabeça.
Nascido em 16 de junho de 1927 em Nossa Senhora das Neves,
hoje João Pessoa, capital da Paraíba, Ariano Vilar Suassuna era filho de João
Suassuna, então governador de seu estado natal. Com o fim do mandato, um ano
depois, toda a família se mudou para o interior.
O velho contador de histórias do sertão tinha apenas 3 anos
quando um fato trágico marcou sua infância. No desenrolar da Revolução de 1930,
um pistoleiro de aluguel assassinou seu pai com um tiro pelas costas, numa rua
do Rio de Janeiro.
O assassinato foi motivado por boatos que apontavam o
patriarca da família Suassuna como mandante da morte de João Pessoa, seu
sucessor no governo, fato que serviu de estopim para a revolução. Um ambiente
assim, com dívidas de sangue e rivalidade entre famílias, cobrava dos órfãos a
vingança. Mas, um dia antes de ser assassinado, João Suassuna deixou uma carta
aos nove filhos pedindo que eles não se tornassem assassinos por sua causa.
Ariano Suassuna obedeceu. Em vez disso, dizia estar perto de
perdoar os criminosos que mataram seu pai. A mãe e viúva também ajudou, ao
dizer que o pistoleiro responsável pelo crime já havia morrido (era mentira).
Com a tragédia, a família mudou-se para a pequena cidade de Taperoá, no
interior da Paraíba. E Ariano herdou a biblioteca do pai, onde encontrou livros
importantes para sua formação. Um dos mais importantes, sem dúvida, foi “Os
sertões”, de Euclides da Cunha. A obra lhe apresentou um dos personagens que
mais marcaram sua vida: Antônio Conselheiro, profeta e líder de Canudos.
Em 1942, Suassuna foi para Recife concluir o ensino básico.
Anos depois, na faculdade de Direito, ajudou a fundar o Teatro do Estudante de
Pernambuco. Em 1947, encenou sua
primeira peça: “Uma mulher vestida de sol”. Nove anos
depois, levaria aos palcos seu texto mais conhecido, “Auto da Compadecida”, que
ganharia adaptações na TV e no cinema.
Por causa do teatro, deixou o Direito de lado seis anos após
ter se formado. O romance surgiu mais tarde em sua vida. Em 1971, Ariano
Suassuna lançou seu “Romance d’a pedra do reino e o príncipe do sangue
vai-e-volta”, com nome comprido como seus cordéis tão adorados e pensados para
ser uma trilogia. Com o livro, o escritor avança em relação à literatura
regionalista dos anos 1930, representada por João Guimarães Rosa e José Lins do
Rego. Mais tarde, Ariano Suassuna diria que “A pedra do reino” era, de certa
forma, uma tentativa de trazer seu pai de volta à vida.
Havia quem acusasse o escritor de lutar contra moinhos de
vento: o escritor se apresentava como um defensor da cultura popular
brasileira, contra a invasão da indústria cultural norte-americana. Falava mal
de Madonna e Michael Jackson. Não à toa, quando foi secretário de Cultura do
governo Miguel Arraes, nos anos 1990, tornou-se um ferrenho opositor do
maracatu eletrônico e do manguebeat. Ele se recusava, por exemplo, a chamar
Chico Science, o vocalista da Nação Zumbi, pelo nome artístico. Dizia “Chico
Ciência”.
A defesa da cultura nacional, que muitas vezes lhe rendeu o
rótulo de xenófobo, já vinha no sangue e no nome da família. Na onda
nacionalista depois da Independência, em 1822, vário brasileiro adotaram nomes
indígenas. Seu bisavô Raimundo Sales Cavalcanti de Albuquerque escolheu
Suassuna, de origem tupi, e nome de um riacho da região onde a família vivia.
Nos anos 1970, fazendo jus ao nacionalismo da linhagem, Ariano fundou o Movimento
Armorial, que defendia a criação de uma cultura erudita com bases na cultura
popular — e toda a sua obra orbita em torno desse ideal.
Em 1989, o sertanejo foi eleito para a cadeira de número 32
da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono era Araújo Porto-Alegre. Sexto
ocupante da cadeira, Suassuna nunca foi um imortal de frequentar os eventos da
instituição. Era uma espécie de filho pródigo da ABL.
Para além de sua obra, o escritor paraibano ficou famoso
também por dar aulas em que dissecava a cultura brasileira, as suas origens
ibéricas, a tradição dos violeiros, dos cantadores, das rabecas, dos cordéis.
Eram aulas-espetáculo. E a última foi na sexta-feira passada, no 24º Festival
de Inverno de Garanhuns, a 230 quilômetros de Recife. O Teatro Luiz Souto
Dourado ficou lotado, como sempre acontecia nesses eventos. Um dos motivos de
tanto sucesso era o bom humor do escritor, uma de suas marcas. Não que tenha
sido sempre assim. Suassuna atribuía o aparecimento do humor em sua vida ao
encontro com Zélia, sua mulher há mais de 50 anos. Para Suassuna, ela havia
“desatado alguma coisa” dentro dele. “O riso a cavalo e o galope do sonho são
as duas armas de que disponho para enfrentar a dura tarefa de viver”, escreveu
em “A pedra do reino”.
Ariano Suassuna trabalhava em um novo livro, "O jumento
sedutor", havia mais de 20 anos, e planejava o lançamento para este ano. A
demora não era para menos. Seu processo de criação era lento: escrevia e
reescrevia, várias vezes, à mão. Depois, copiava para a máquina de escrever e,
só então, corrigia. Era aí que o escritor passava tudo a limpo, novamente à
mão. Às vezes, descartava todo o material e voltava ao começo do processo. Como
ilustrava os próprios livros e ainda parava para dar suas famosas aulas-espetáculo
pelo país, demorava mais ainda. Sem título, o romance seria a continuação de “A
pedra do reino”.
Além do amor pela literatura, havia espaço para o futebol:
seu time do coração era o Sport Club do Recife, que até o homenageou em seu
uniforme em 2013 com uma frase que ele costumava repetir: "Felicidade é
ser Sport". Suassuna tinha fama de pé quente.
Entre as muitas homenagens que recebeu, uma das que mais o
marcaram foi o desfile da escola de samba Império Serrano, que levou para a
avenida o enredo "Aclamação e coroação do imperador da pedra do reino
Ariano Suassuna", em 2002. "Um escritor que ama o seu país não pode
querer homenagem maior que esta", disse.
Em 2007, ele assumiu a secretaria de Cultura de Pernambuco a
convite do governador Eduardo Campos, e chegou a ocupar outros cargos até
deixar o governo recentemente, em abril de 2014.
O ano de 2007 também foi marcado pela celebração dos 80 anos
do escritor em todo o Brasil. As homenagens o levaram a viajar de Norte a Sul
do país. Uma epopeia para um homem que, além de apreciar o sossego, detestava
avião. Mesmo assim, o apaixonado e muitas vezes polêmico defensor da cultura
popular brasileira seguia adiante. Mas brincava: se soubesse que chegar aos 80
anos daria tanto trabalho, teria ficado nos 79.
Quarta, 23/07/2014 – Fonte: O GLOBO / Postado por: Paulo
Alves
Parabéns nenem pela iniciativa de fazer esse blog , agora podemos ficar conctados com as noticias de nossa terinha (uruçu-mirim) e região .
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