terça-feira, 31 de março de 2015

Falta de professores obriga alunos a saírem mais cedo em escola de PE

Farda e material atrasados e infraestrutura precária são outros problemas.
Escola Manoel Gonçalves da Silva fica em Paulista, no Grande Recife.


                                                            FOTO ILUSTRATIVA

Imagine um colégio onde as aulas devem ser até meio-dia, mas todos os dias os alunos são liberados uma, duas, até três horas antes. Uma escola onde turmas diversas relatam ausência de professor de matemática, português, ciências, artes. Um local onde não há aulas de educação física há mais de um ano e o ginásio é puro lamaçal. Uma unidade de ensino que, quase dois meses após o início do ano letivo, ainda não distribuiu fardas e material escolar. Essa instituição existe: por três dias, a reportagem do NETV 1ª Edição acompanhou a rotina na Escola Municipal Manoel Gonçalves da Silva, em Maranguape 1, Paulista, no Grande Recife, e flagrou uma série de descasos.
Na última terça-feira (24), chegamos à escola por volta das 7h e registramos a chegada dos estudantes. Duas horas e meia depois, o primeiro grupo foi liberado. Eram alunos do 5º ano. “Era para a gente ter aula de matemática, história e português, mas mandaram a gente largar porque não tem professor. A gente acorda cedo todo dia para vir para cá, mas toda vez acontece isso. A gente não aprende nada”, sentencia o pequeno Rogério Victor Damasceno. “Já levei reclamação da minha mãe porque todo dia estava largando cedo”, completa Jennifer Cristine Oliveira, da mesma turma.
Na frente da escola, a estudante Beatriz Aureliano exibe o absurdo. Abre o caderno na disciplina de português e, com mais de 50 dias de ano letivo, tem apenas uma página anotada. “É para depois dizer que não teve nada”, brinca, já quase sem conseguir sorrir. “E eu estou usando a farda de outra escola que usei ano passado porque não deram ainda”, acrescenta a colega Vitória Caroline. A última vez que largaram ao meio-dia foi há mais de um mês.
Neste dia, todos os alunos foram liberados pela direção às 11h, sob alegação de que havia faltado energia na escola. Em nota oficial, a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) negou. “Não há registro de interrupção no fornecimento de energia, na manhã desta terça-feira (24), na Rua 126, em Maranguape 1, Paulista”, diz o comunicado.
No dia seguinte, o mesmo flagrante se repetiu, mas desta vez ainda mais gritante. Os estudantes foram orientados a voltar para casa antes das 9h. E novamente receberam a informação de que o colégio municipal estava sem eletricidade. A reportagem, no entanto, filmou luzes acesas e ventilador ligado em uma sala da administração, contrariando os funcionários. A Celpe, também em nota, voltou a negar qualquer falta de luz.
Os pais eram o retrato da indignação. “Fico preocupada, porque é um absurdo isso. Desde que começaram as aulas está assim a situação. Agora mesmo fui lá falar”, disse a dona de casa Andréa Cavalcanti. “Isso prejudica nossos filhos. Eles vêm para estudar e não têm aula”, reclamou o ajudante de expedição Luciano da Silva.
A estrutura física da Escola Municipal Manoel Gonçalves da Silva também apresenta problemas. O ginásio está com o piso todo danificado e não é coberto. Em época de chuva, vira piscina. No quintal, o mato cresce sem manutenção. Pessoas que preferiram não se identificar disseram que o lugar é ponto de drogas. No banheiro masculino, não há um metro de parede sem pichação. Um dos vasos não tem descarga.
A Secretaria Municipal de Educação admitiu que quatro das oito turmas da manhã estão sem professor de matemática. Além disso, não há nenhum educador físico. A escola também padece com a falta temporária de professores de outras disciplinas, como português e ciências. A Secretaria garantiu que está em processo de contratação dos docentes e assegurou que as aulas perdidas serão repostas em um calendário especial a ser elaborado pela direção.
A Secretaria de Educação também informou que ainda esta semana vai providenciar farda e material escolar para os alunos da Escola Municipal Manoel Gonçalves da Silva, municipalizada em 2013. Em relação à falta de luz, a diretoria do colégio disse que entrou em contato com a Celpe e mostrou os protocolos de atendimento. De acordo com a gestão da escola, o que ocorreu foi um problema com a chave geral de energia, que será trocada. Por meio de nota enviada à TV Globo, a Prefeitura de Paulista informou que a diretora da unidade de ensino foi exonerada.
G1 PE

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