segunda-feira, 2 de março de 2015

Um bebê, duas mães e mil sonhos

Juntas há quatro anos, Maira Morais e Nathália Lins seguem uma tendência crescente entre casais homoafetivos: a busca pela concepção do filho biológico

Maira e Nathália aguardam a chegada de uma menina gerada com sêmen de um doador. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press

O ventre cresce pouco a pouco. Do lado de fora daquele ambiente único e protegido, as expectativas maternas são divididas por duas mulheres. Há sete meses, a jornalista Maira Morais, 27 anos, e a fonoaudióloga Nathália Lins, 30, iniciaram o projeto de ampliar a família. Procuraram uma clínica de reprodução assistida e decidiram que Nathália seria a primeira a engravidar. Em 2018 será a vez de Maira. Juntas há quatro anos, as duas seguem uma tendência crescente entre os casais homoafetivos: a busca pela concepção do filho biológico.

O boom vem sendo percebido nas clínicas há cerca de dois anos. Coincide com a publicação da resolução do Conselho Federal de Medicina, em janeiro de 2013, que liberou a reprodução assistida para casais homoafetivos. “Antigamente, tínhamos um casal por ano nos procurando. Somente nos primeiros dois meses deste ano já atendemos três casais homoafetivos”, disse o médico Sebastião Teixeira, que atua na área desde 1990.

Também contou para essa mudança de comportamento uma decisão inédita do juiz Clicério Bezerra, em 2012, autorizando o primeiro casal homoafetivo brasileiro a registrar a dupla paternidade na certidão de nascimento de um bebê nascido através de fertilização in vitro. “A questão da consaguinidade conta muito. Os casais desejam o filho biológico”, analisa o magistrado. No caso dos homens, eles podem contar com uma barriga solidária, que pode ser uma mulher com parentesco até segundo grau. Se não houver essa pessoa, é feito um pedido ao Conselho Federal de Medicina para autorizar a gestação em outro ventre indicado.

Para engravidar, Nathália ingeriu hormônios para estimular a produção de óvulos, que mais tarde foram aspirados para a colocação dos espermatozóides, comprados em um banco de sêmen em São Paulo. “Até tentamos adotar uma criança, mas soubemos que a espera por um bebê duraria cerca de cinco anos. Por isso decidimos pela fertilização in vitro. O processo é caro, porém é mais rápido”, explicou Nathália.

O doador, contaram, tem as características físicas de Maira. “É para termos a chance de o bebê parecer com ela também”, contou a fonoaudióloga. Outros quatro embriões produzidos na fertilização foram congelados para, em três anos, um deles ser gerado por Maira. “Decidimos que ela seria a primeira a engravidar porque é a mais velha do casal”, explica.

O preconceito, na opinião do médico Eduardo Alves, ainda é um dos obstáculos para os casais homoafetivos procurarem as clínicas de reprodução assistida. “Há espaços, por exemplo, que ainda não atendem essa demanda. Constituir família, no entanto, é um direito de todos”, comenta.

Criança aprende o que é ensinado, diz psicóloga

A busca dos casais homoafetivos pela concepção do filho biológico sempre levanta polêmicas. Uma delas é: e se esse filho desejar conhecer o doador do sêmen ou a dona da barriga solidária que o gerou? Para a psicóloga especialista em atendimento de crianças que passaram pelo processo de adoção, Suzana Schettine, a criança vai aprender aquilo que lhes é ensinado. “As mães solteiras, por exemplo, nem sempre têm o pai presente. Se for ensinado com naturalidade que há diversos tipos de família, não há problemas. A dificuldade é do adulto e não da criança”, analisa.

A especialista ressalta, ainda, que o importante é a criança ter sempre o contato com o gênero que não está presente no casal em questão para ter referências diferentes. “Para isso existem outros parentes, como avós, tios, irmãos”, explica.

Outro ponto de polêmica é quanto à convivência com a homossexualidade e suas implicações. “A homossexualidade não é escolha ou opção. É um estado de ser e a maioria das pessoas não entende, demoniza. A criança não será gay por contágio, influência ou proximidade.”

Diario de pe

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